

Um encontro amigável
Os falantes da língua SENA decidiram encontrar-se para uma conversa corriqueira, e estiveram nesse jantar os seguintes: Emmanuel Chaves, Marcos Muledzera, Dick kassotche, Raul Domingos, Lucas Sinoia e Jó António Capece. Mutarara esteve em peso, tirando Emmanuel Chaves, natural de Chemba e Jó Capece, de Luabo, e todos eles do VALE DO ZAMBEZE. A grande atenção virou-se para o Lucas Sinoia, o nosso homem de boxe, orgulho de Moçambique, do Vale de Zambeze e Mutarara, em particular. E para muitos moçambicanos, quando se fala de Boxe, em Moçambique, é falar de SINOIA, o homem que ganhou uma medalha de bronze nos jogos africanos de 1987, no Cairo. Participara nos jogos olímpicos de 1988, em Seul – Coreia do Sul, e em Londres – Inglaterra, em 1996. Ele é detentor de vários títulos da Zona IV na sua categoria e em Moçambique, seu país natal. Retirado do Boxe, e como maneira de se manter útil a modalidade que sempre amou, ele fundou a Academia de Boxe Lucas Sinoia.
A língua une as pessoas. E a língua é o eixo de todas as culturas. O Boxe, para os da tribo SENA, é como o karate, para os chineses. O jovem do Vale de Zambeze, não importa qual é a margem do rio em que se encontra a residir, tem o Boxe como uma das artes obrigatórias do seu domínio. E prova disso, no Moçambique colonial, muitos pugilistas da tribo SENA exibiram a sua arte de bem jogar com as mãos, braços, pés e corpo, casos de: Ganda Tembo (Chigandankanda), Duli, Maphepa, Manteiga, Danger, Campira Momboya, Mbewa, António Beira, Xeque Xeque, Cambeua, Sulo, Jose Faria, Nthiko, Luis Mimosa, Daniel Nyati, entre outros. Os mais velhos ainda se recordam do emocionante super-combate entre Ganda e o campeão da Zâmbia, em 1968, com a vitória para o pugilista moçambicano. Nesse combate, Ganda, depois de uma victória estrondosa e convincente, recebeu, dos organizadores do evento, uma donzela (mulata chinesa), como troféu, com a qual teve uma filha que, neste momento em que estou a escrever esse artigo, vive na Malanga, Maputo.
Nos nomes supracitados, consta o de Vasco Campira Momboya Alfazema, natural de Inhangoma- Mutarara, um grande pugilista desses tempos e também grande pintor da dimensão de Malangatana. A par disso, Vasco Campira é mencionado pelo historiador António Sopa, no seu artigo integrado no catálogo de artes plásticas, produzido pelo Ministério da Cultura e Turismo, em 2017 – como um dos artistas plásticos de uma geração em que estão os seguintes: Jacob Estevão, Agostinho Mutemba, Luís Polanah, Mankew, Marcos Zicale, Mafenhe, Come, entre outros. Segundo o mesmo historiador, esse grupo de artistas, apesar de ter começado a pintar na década de 1940, só recebeu apreciadores e visibilidade mediática no final da década de 50 e princípios da 60, quando começou a expor. Pena que a história da humanidade, com as suas manias de seleções de vária ordem, tem as suas preferências e há nomes que serão apenas nomes sem algum significado sócio-cultural até que algum curioso vasculhe enciclopédias mentais dos coetâneos e descubra o que nunca se escreveu. Ademais, Vasco Campira foi fundador do PACODE e concorreu pelo mesmo Partido, em 1994, para as eleições presidenciais, tendo ficado em sexto lugar dos doze concorrentes que se apresentaram a esse acto.
Para além do Lucas Sinoia, importa dizer que Emmanuel Chaves, PCA dos Aeroportos, dispensa apresentações. Marcos Muledzera é um dos moçambicanos dotado de línguas, que para além do seu SENA, língua materna, e Português, Língua oficial, fala fluentemente Kiswahili, Inglês, Francês e Alemão. Muledzera é daquelas relíquias que, se fosse noutros países, independentemente da sua inserção politica ou académica, seria um candidato permanente nas Universidades para leccionar não por favor, senão pelo valor que ele representa ao mundo linguístico. Raul Domingos, Presidente do PDD e antigo membro da RENAMO, também dispensa apresentações, mas há que sublinhar que ele, junto do Armando Guebuza, negociadores-chefes dos Acordos de ROMA, são figuras incontornáveis do processo da pacificação em Moçambique. E por fim, temos o Dr Jó António Capece, doutorado em educação (na área do currículo), pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo.
Nesses encontros, a soma de experiências e a partilha de conhecimentos é primordial. Cada um munido com o seu saber enciclopédico avivou e alegrou a noite, o momento, a ocasião, a confraternização. Bem-haja os falantes da Língua SENA, do CHI-CENA (CI-SENA).





