Permitir-se

Permita-se sentir a Dor funda e profunda
que é para saber o que é dor de verdade
e ter a noção das moléstias
dos que sofrem simplesmente feitos sofrer
Permita-se chorar
que é para ver a cor das lágrimas molhantes
e mergulhar-se no olor da tristeza por vencer
Permita-se lavar diariamente a face humana
que é para diminuir a espessura da sujidade
que o vento acumula nos olhos lacrimajantes
e ter o prazer de enxergar a luz das coisas circundantes
Permita-se mijar todo o ódio passional
que é para sentir o alívio de uma ejaculação ardente enjaulada
Permita-se viajar no tempo e nos espaços
que é para gravar o que há de mais belo
que o Invisível criou nos Mundos existenciais
Permita sentar-se à volta de qualquer lareira
e escutar as vozes experientes de dicionários andantes
Permita-se amar uma Mulher palpável e respirante
que é para ter a noção
do que é realmente esse sentimento
que abala o Ser Humano
Permita-se escrevinhar doidices diárias
que é para deixar algo tangível para as futuras gerações
Permita-se ser a essência de cada caminhar existencial
e deixar táctil a estátua dos sonhos da liberdade
Permita-se sair à rua todas as manhãs e noites
e sentir a rebeldia dos jovens afogar-se no álcool
e das jovens que procuram o prazer no Metical dolarizado
Permita-se comprar uma manga bem madura produzida em Mutarara
e saborear o suco saboroso sem adictivos modernos
que provocam cânceres
Permita-se engolir certos desaforos
e ter ideia dos que não têm a noção de respeito mútuo
Permita-se sonhar sonhos sonháveis e do Além-lógica
e na vivencificação diária
abraçar a força das palavras
e conjugar o verbo VIVER no modo sonhável.
Stefan Florana Dick
26.10.2022