Silêncios
Atualizado: 27 de fev. de 2021

Cada silêncio é um silêncio
mas há silêncios que são autênticas páginas
que transmitem acontecimentos-pensamentos
ou anunciam o porvir de um novo ser existencial
ou uma corrente filosófica diferente das já existentes
Há silêncios que são mais que recados indecifráveis
que circulam pelas veias da razão até ao âmago dos alvos
Há silêncios que são tão profundos
que nem o Índico ou o Pacífico
e que dentro deles estão guardados tesouros mágicos
que ditam o rugir das ondas dos mares
as quais funcionam como um respirar que controla a Natureza Humana
Há silêncios que são verdadeiras Enciclopédias
que preservam segredos seculares de gerações continuadas
Há silêncios que são mais que vozes
que influenciam o destino dos amores contidos
Há silêncios que se escondem na melodia de olhares
e são capazes de declarar um amor fogueado dentro do peito
Há silêncios que são fogo que queima e reduz as emoções a Nada
e a combustão leva a recriação da beleza das coisas já existentes
Há silêncios que esmigalham os objectos adorados
e o pó resultante da destruição
encegueira os intelectos mais humildes e brilhantes das sociedades humanas
Há silêncios que são pura alegria
que acolhem mentes de hoje e de amanhã
Silêncio que sabem brincar o jogo existencial
SILÊNCIOS
Por vezes penso que o silêncio
é uma maneira de marcar presença
funda e profunda de um PENSAMENTO
Por vezes acho que o silêncio
é o guia mais completo que
ensina saudades
sugere presença
transporta o EU em si para mundos imaginários
Por vezes imagino o silêncio ser a linguagem mais sensual
com a qual uma mulher percebe a presença-impresença do amado
Mas há quem prefere os ruídos
da voz
do olhar
do Sol
da presença física
do passo
do movimento
das marcas do odor
da luz dos verbos que penetram no fulcro passional
SILÊNCIOS
Há silêncios que machucam desejos
e há os que provocam dores e compaixões
Há silêncios que silenciam sonidos ou simulam sons
e há silêncios que libertam e deixam o pensamento libertar-se
Há silêncios que são mais que vozes procurando por audiências
para suas afirmações ainda que inaudíveis e invisíveis
silêncios esses que ferem e atingem o sentido da existência do Universo
Uff – há silêncios que valem outros silêncios
borbulhando nas mentes dos que sabem o real valor de um silêncio
Mas de todos os silêncios que já vivenciei
prefiro o que me faz recordar do fogo
que devora o coração
que corre no rio das minhas veias
e que me obriga a recorrer à água que purifica o meu Eu
Prefiro o silêncio que confabula comigo,
na sua voz sincera e lacónica,
e traduz em sons ininteligíveis
as sabedorias centenárias que conserva adentro do seu manto
e me protege das vozes em mim
que querem ser antípoda do silêncio consentido
Prefiro o silêncio que tem o gosto da liberdade
e conta-guarda histórias de uma geração sacrificada pelo poder político vigente
Prefiro o silêncio da melodia do vento que apazigua a minha alma sensível
Prefiro, sim, o silêncio que tem asas e voa para o instante dos instantes existenciais
onde o zé-ninguém se torna dono do seu destino
SILÊNCIOS
Há silêncios dos políticos
dos poetas
dos académico-intelectuais
da populaça
e até das crianças que ainda não sabem do significado da mudez
Mas o silêncio, em si, quiçá, será, sempre,
um barulho interior
que se manifesta como um ruído de pensamentos em ebulição de cada PENSANTE
a chave de ponto de equilíbrio
do social-académico-politicamente correcto
Mas a pergunta que ainda não se quer calar é:
Haverá mesmo silêncios que são puramente silêncio?!
Stefan Florana Dick